Um ato pode ser errado sem ser necessariamente um pecado. Então, como saber a diferença?
O Que é Pecado Mortal?
Todos sabemos que existem ações moralmente boas e ações moralmente más. Mas quando uma ação deixa de ser apenas errada e se torna pecaminosa, especialmente um pecado mortal? Como afirma São João: “Toda iniquidade é pecado, mas há pecado que não é para morte” e “há pecado que é para morte” (1 João 5:16-17).
Segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC), um pecado mortal é aquele que “destrói em nós a caridade, sem a qual a bem-aventurança eterna é impossível. Não arrependido, traz a morte eterna” (CIC 1874). É isso que torna um pecado “mortal”: ele nos separa de Deus para sempre, a menos que seja “redimido pelo arrependimento e pelo perdão de Deus” (CIC 1861).
Diferença Entre Pecado Mortal e Pecado Venial
Felizmente, nem toda ação errada é um pecado mortal. Para saber se uma ação é um pecado mortal, três condições devem ser atendidas: matéria grave, pleno conhecimento e consentimento deliberado. O Catecismo deixa claro que todas as três condições devem ser atendidas juntas (CIC 1857).
Se as três condições forem atendidas, o pecado é mortal. Caso contrário, “comete-se pecado venial quando, em uma matéria menos grave, não se observa a norma prescrita pela lei moral, ou quando se desobedece à lei moral em matéria grave, mas sem pleno conhecimento ou sem completo consentimento” (CIC 1862).
Embora o pecado venial ainda seja um problema, pois “enfraquece a caridade” e “impede o progresso da alma na prática das virtudes e do bem moral”, ele não nos “priva da graça santificante, da amizade com Deus, da caridade e, consequentemente, da felicidade eterna” (CIC 1863).
O Que é Matéria Grave?
A matéria grave significa que o pecado é sério. Como saber se um pecado é grave? O Catecismo é explícito sobre a gravidade de determinados pecados, incluindo:
- Sacrilégio (CIC 2120)
- Blasfêmia (CIC 2148)
- Perjúrio (CIC 2152)
- Deliberadamente evitar a Missa aos domingos e dias de preceito (CIC 2181)
- Assassinato (CIC 2268)
- Ódio ao próximo, quando se deseja deliberadamente um dano grave a ele (CIC 2303)
- Prostituição (CIC 2355)
- Relações sexuais fora do matrimônio (CIC 2390)
- Adulação que faz alguém cúmplice dos vícios ou pecados graves de outra pessoa (CIC 2480)
Além disso, São Paulo apresenta listas em Gálatas 5:19-21 e 1 Coríntios 6:9-10 de pecados cujos praticantes não “herdarão o reino de Deus”. No entanto, nenhuma dessas listas é exaustiva.
A Relação com os Dez Mandamentos
O Catecismo afirma que “a matéria grave é especificada pelos Dez Mandamentos” (CIC 1858). Jesus, ao responder ao jovem rico sobre como herdar a vida eterna, diz: “Você conhece os mandamentos: ‘Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás, honra teu pai e tua mãe'” (Marcos 10:17-19). Jesus implica claramente que aqueles que violam esses mandamentos não herdarão a vida eterna.
No entanto, existem duas ressalvas importantes:
- Nem toda violação dos Dez Mandamentos é um pecado mortal. Por exemplo, alguém que rouba um valor insignificante não está necessariamente condenado.
- Nem todo pecado mortal é uma violação direta dos Dez Mandamentos.
Santo Tomás de Aquino aborda diretamente a questão do pecado da gula, afirmando que nem todos os pecados mortais se opõem diretamente aos preceitos do Decálogo, mas apenas aqueles que contêm injustiça. Assim, os Dez Mandamentos estabelecem os “primeiros princípios” da lei moral, mas não são uma lista exaustiva de todos os pecados graves.
A pergunta certa é: Este comportamento coloca algo acima de Deus ou me afasta de Deus? Se sim, trata-se de matéria grave.
A Importância das Circunstâncias
As circunstâncias também influenciam se um pecado é mortal. O Catecismo aponta que é preciso considerar quem é prejudicado: “a violência contra os pais é, por si só, mais grave do que a violência contra um estranho” (CIC 1858). Da mesma forma, roubar da riqueza excedente de um milionário é menos grave do que roubar a comida de um homem faminto.
Em relação à mentira, o Catecismo explica: “A gravidade da mentira é medida pela natureza da verdade que deforma, pelas circunstâncias, pelas intenções de quem mente e pelo dano causado às vítimas. Uma mentira, em si mesma, pode ser apenas um pecado venial, mas torna-se mortal quando causa grave dano às virtudes da justiça e da caridade” (CIC 2484).
Com conteúdo de catholic.com
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